Tenho pensado muito
em deitar em palavras minhas visões mais idiossincráticas sobre o mundo,
pintá-lo com as cores que eu vejo. Tenho diversas opiniões e, mais importante
ainda, opiniões diversas. Já tentei me psicografar, transcrever a narrativa
monológica de minha vida, meus pensamentos e divagações, mas é difícil e eu
teria que falar pelo menos quatro línguas que não domino. Ah, e essa dor de
cabeça que não me deixa e torna difícil demais pensar e eu penso demais e o
tempo todo e sobre tudo, que agonia meu deus. Deviam se juntar os neurônios
todos e dar por findas todas as dores de cabeça, dizendo "aqui não, aqui
mandamos nós e temos de trabalhar".
Quando menino e
estudante, nunca entendi direito nas aulas de português esse negócio de sujeito
e objeto. Sujeito é o que fala e objeto o que ouve. Ora, eu estou sempre
falando comigo mesmo, sou sujeito ou objeto? Pode existir em gramática um
paradoxo? Um ente pode ser ao mesmo tempo sujeito e objeto? O cara na expressão
"matou-se" é o quê? Não estará aí a explicação da natureza divina do
ser humano? Deus falou que ele era o que era por si mesmo, ego sum qui sum -
imagino que isso signifique que todos que conversam sozinhos tenham uma
partícula divina, criam o verbo para si mesmos e, afinal, no princípio não era
apenas o verbo?
Em minha peculiar
narrativa eu sou especial, há alguma coisa misteriosamente grandiosa em mim
mesmo. Uma estudante de psicologia me aconselhou, quando eu tinha quinze anos,
a fazer análise, que eu talvez tivesse delírios de grandeza, delusions of
grandeur. Que artista que se preze não tem ilusões de grandeza ou ilusões tout
court? Eu desconfio de muita coisa, inclusive de minha completa sanidade. Mas
desconfio muito da sanidade dos outros, sou fino para achar que os outros são
doidos. Já imaginei que se se juntassem célebres psiquiatras e me examinassem,
chegariam à conclusão de que nunca houve alguém tão lúcido e são quanto eu.
Dei-me conta que se
eu fosse o mais lúcido eu seria o único lúcido, o único normal. Mas normal é o
que segue a norma e num mundo de sete bilhões não existe norma de apenas um, a
norma é da maioria, o que me transformaria no único doido no planeta todo e se
não tiver mais ninguém no universo eu seria o único doido do universo, assim
como Obama seria o cara mais poderoso do universo todinho.
A dor de cabeça
eterna explica muita poesia ruim. João Cabral de Melo Neto louvou a aspirina em
versos, mas eu nunca vi propaganda da Bayer com os versos dele, talvez o
departamento de marketing deles não leia poesia em português e não sei se JCMN
escrevia em alemão. Ele era seco e anguloso como pedras sertanejas e se sentiu
atraído mais pela Espanha seca. Acho que ele tinha dores de cabeça metafísicas
também. A Crítica do Ácido Acetilsalicílico Puro. Não consigo me lembrar de uma
rima soante para puro, embora possa pensar em pelo menos uma rima toante para
pura. O que será que Ariano pensava sobre um poema à aspirina? Algum poeta
americano deve ter escrito uma ode ao Prozac. Prozac deve rimar com backpack e
talvez com brokeback.
Se eu pudesse nascer
de novo queria vir como filósofo alemão.
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